Aí eu gritei muito forte, como se quisesse vomitar um monte de coisas através daquele grito. Enquanto as pessoas festejavam o ritual das felizes cordialidades natalinas no salão alojado sobre minha cabeça eu discutia com o manobrista e ele falava das palavras que eram contra, umas das outras. A cidade estava cheia de luzes coloridas nos seus pinheiros inventados, importados, imbecilizados. As lojas distribuindo mensagens de alegria e bônus.Os perus, as neves, as cartinhas ao ancião obeso e ultrapassado, eis o espírito natalino!!!!
E eu?Eu gritava. Eu gritava e queria continuar gritando até agora, gritando até que meu grito se tornasse uma música.
Eu não gosto do Natal.
Eu também não gosto quando preciso gritar. Não gosto porque isso reflete a sensação interna de vazar.
No meio do meu grito tinha muitas notas, era uma mistura de amendoins temperados, que eu não parava de comer e de um manobrista medroso. Sabe de uma coisa? Eu não gosto do medo.Não, não gosto do medo. Posso até respeitá-lo mas não tenho que gostar!
Ele - o medo - paralisa.
O Medo impede o risco da felicidade.
Eu grito pro medo ficar com medo de mim!!!!!!!!!!!
Meu grito era essa combinação imperfeita de tantas coisas. Meu grito tinha um Brasil inteiro dentro de mim, misturado, multiplicado, um Brasil de fragmentos em comum que resultava, ou resulta, numa única península...uma península com nome!
Ai, eu gritei sim, gritei!Gritei querendo que meu grito chegasse aos ouvidos da Península...não sei se chegou, não sei...vou gritar mais!
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