Ainda não era nem meio-dia, a manhã não tinha sido das melhores e minha cabeça tinha um turbilhão de coisas passando.Terremotos, tratores e procura de caminhos.
Como nosso corpo não é desconectado, fragmentado, despedaçado, se a cabeça estava nesse estado os outros órgãos caminhavam para sensações desgostosas. Náusea no aparelho digestivo. Pele opaca. Coração disritmado. Respiração curta. Olhos embaçados Pés grandes para o tamanho do calçado.
Meio a tudo isso um trânsito fora do habitual também emperrava o movimento. Emperrava meu movimento, o movimento da via pública e de todos ao meu redor. Emperraromovimento.
Aí eu olho pra compreender o motivo do amontoado de carros e vejo um carro de polícia. Por detrás desse sinalizar está lá...
“tá lá o corpo estendido no chão..”
A polícia civil faz a perícia. Uma moça de luvas vai retirando tudo dele ....pera aí, pera aí..
SÓ UM MOMENTO DE REFLEXÃO: tudo o quê? Se ele não tinha nada.
Voltando.
Era um homem, negro, magrelo, sem camisa, cabelo com nuances brancas, devia ser um pai de família, sim devia.
Pra mim não importou naquele momento se ele roubou, matou, fez uso de substâncias toxicas, estelionatou, poluiu o ar...Pra mim só valia pensar nas pessoas que mantinham algum tipo de afeto por aquele homem.
Uma vida. Uma porra de uma vida a menos na calada da noite paulistana.
Uma vida a menos no país, na América do Sul, no mundo, no universo.
Uma porra de uma vida a mais nas estatísticas criminalistas.
Sim! Essa garantia ele tinha...de entrar para as estatísticas!!!
Que cotidiano é esse?
Onde nós temos que respirar fundo e se convencer que é muito natural esse tipo de acontecimento. Afinal as ciências políticas, sociais, humanas, globais, todas as ciências do mundo podem explicar tal fenômeno em no máximo duas laudas.
Eu, como educadora, parte do átomo social de intelectuais da sociedade peço desculpas.
Me desculpem estimados companheiros, me desculpem, mas ainda sou humana!
HUMANA. O que é isso? Gostaria que vocês respondessem!
Gostaria de como humana, tragar um vinho, colocar uma meia luz e entre cores filosofar sobre isso.
Será que isso é inadequado? É burguês? *******
Será que a família chorou a morte dele? Ele tinha família?
Será que perante a justiça dos homens ele mereceu essa morte?
Será que era carma? Será que era trabalho feito? Talvez era uma questão de mapa astral...
Não consigo achar uma explicação simples para um homem, um ser humano...matar outro igual. Sou burra?
Sou sensível? Já sei, sou dramática...claro, muito dramática!
Mas passei o dia tentando digerir aquele corpo no chão. Aquele impedimento de se movimentar.
Ele não podia se mover, claro, estava morto. Nós, rotineiramente, passando ao redor, tivemos nosso ritmo diminuído...mas.........um segundo.....mas...digo......continuamos a caminhada......
mas............cada dia......só um segundo....pera aí....
já volto....então.....cada dia acontece alguma coisa....opa...em algum canto do mundo...¨¨¨¨
que faz a gente diminuir em alguma coisa....
E aí resta a arte....a arte que denuncia, elabora, anuncia....
Mas não quero a arte como resto..........
...
Somos um coletivo...ou não somos???
# ????...::::;;;; "" _|||\\\\...!!!....:(
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